A Engenharia divide-se em duas vertentes: de combate e de construção. A de combate apoia as armas-base, facilitando o deslocamento das tropas amigas, reparando estradas, pontes e eliminando os obstáculos à progressão e, ainda, dificultando o movimento do inimigo. Uma operação de grande envergadura, e que depende diretamente da Engenharia, é a transposição de cursos de água obstáculo. A Engenharia de Construção, em tempo de paz, colabora com o desenvolvimento nacional, construindo estradas de rodagem, ferrovias, pontes, açudes, barragens, poços artesianos e inúmeras outras obras.

A Engenharia Militar Brasileira

Por todo o Brasil, a Engenharia abre caminhos, lança trilhos, pereniza rios e efetua travessias. Ela é a arma de apoio ao combate que tem como missão principal apoiar a mobilidade, a contra mobilidade e a proteção, caracterizando-se como um fator multiplicador do poder de combate.

A Mobilidade é o conjunto de trabalhos desenvolvidos para proporcionar as condições necessárias ao movimento contínuo e ininterrupto de uma força amiga. Os engenheiros realizam, entre outros, trabalhos de abertura de passagens em obstáculos, de transposição de cursos de água, de navegação em vias interiores, de conservação e reparação de pistas e estradas, de destruição de posições organizadas do inimigo, proporcionando condições para que a manobra tática obtenha rapidamente vantagens sobre a posição do inimigo.

A Contra mobilidade é o conjunto de trabalhos que visam deter, retardar ou canalizar o movimento das forças inimigas para, em princípio, contribuir na destruição dessas forças. São trabalhos que proporcionam maior valor defensivo ao terreno, principalmente pela construção de obstáculos de acordo com a intenção do comandante tático, restringindo a liberdade de manobra do inimigo.

A Proteção é o conjunto de trabalhos que visam reduzir ou anular os efeitos das ações do inimigo e das intempéries sobre a tropa e o material, proporcionando abrigo, segurança e bem-estar e ampliando a capacidade de sobrevivência das forças em campanha. Os engenheiros, em função do conhecimento técnico e do pessoal e material especializados, prestam assistência às tropas em combate ou realizam trabalhos de fortificações, camuflagem e instalações.

O patrono da Arma de Engenharia é o Tenente Coronel Villagran Cabrita.

TENENTE CORONEL VILLAGRAN CABRITA

João Carlos Villagran Cabrita nasceu em Montevidéu, onde seu pai – oficial brasileiro – estava a serviço, no dia 30 de dezembro de 1820. Vinte e dois anos mais tarde, foi declarado alferes-aluno. O 1º Batalhão de Engenheiros, em junho de 1865 – tendo Villagran como fiscal administrativo, partiu de seu quartel na Praia Vermelha (RJ) para o teatro de operações da Guerra da Tríplice Aliança, vindo a empenhar-se em sérios embates no final daquele ano. Em 1866, o major Villagran Cabrita assumiu o comando do batalhão em decorrência do afastamento do comandante efetivo que fora comandar uma brigada auxiliar de Artilharia. O Exército Imperial brasileiro marchava, célere, contra o inimigo, quando se defrontou com o caudaloso rio Paraná. Àquela altura, o ritmo da campanha impunha uma complexa transposição de curso de água, e o Passo da Pátria foi a área de travessia selecionada. Na margem paraguaia, o Forte de Itapiru pairava imponente e, do lado argentino, a imensa planície da Província de Corrientes proporcionava excelentes posições de artilharia.

Quase no meio do rio, na frente do Itapiru, existia uma ilha – na verdade um banco de areia – coberta por vasto capinzal. Essa ilha, mais tarde denominada ilha da Redenção ou do Cabrita, iria transformar-se em cenário de sangrentos combates e altar de glórias.

Villagran Cabrita desembarcou naquele local, na madrugada de seis de abril de 1866, com seu batalhão de 900 homens, quatro canhões La hitte e quatro morteiros, indo juntar-se ao 7º Batalhão de Voluntários da Pátria, ao 14º Provisório de Infantaria e aos voluntários das províncias do Norte. Os couraçados Bahia e Tamandaré e duas canhoneiras realizavam os fogos de proteção.

Os soldados de Villagran trabalharam incessantemente, preparando a defesa dessa base insular, pois era previsível que o inimigo tentaria recuperá-la em curto espaço de tempo.

O esforço não foi em vão. Às quatro horas do dia dez de abril, mais de onze mil adversários, protegidos pela densa escuridão da madrugada, contra-atacaram as posições brasileiras que tinham à sua frente a figura vigilante e intrépida de Cabrita.

A impecável atuação da Esquadra brasileira e o destemor dos soldados de terra negaram ao inimigo a retirada que este tentou empreender. A refrega foi renhida. Mais de 600 corpos do inimigo pontilharam o arenoso solo da ilha e outros tantos foram arrastados pelo rio tinto de sangue.

Amanhecia o dia dez de abril de 1866, quando, finalmente, as vibrantes notas dos clarins do batalhão encheram os céus com o toque da vitória. O lamentável, no entanto, estaria por acontecer. Villagran, enquanto redigia a parte de combate a bordo de um lanchão, foi atingido por uma bala de canhão 68 que ceifou lhe a vida, interrompendo lhe a brilhante carreira.

Justas homenagens foram prestadas à memória do bravo combatente, destacando-se a concessão da insígnia de Cavaleiro da Ordem de Cristo pelo Governo Imperial. Entre outras, uma unidade do Exército, o Batalhão Escola de Engenharia, sediado em Santa Cruz (RJ), recebeu o glorioso nome de Villagran Cabrita e a honra de manter acesa a chama do heroico Batalhão de Engenheiros.

É por demais justa a escolha dessa figura imortal para o patronato da Arma de Engenharia, cujo símbolo – o castelo lendário – perpetua o trabalho dos seus integrantes e abriga, como um templo, as tradições e os feitos do seu ilustre Patrono.

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